A festa da Imaculada Conceição de Maria: origens e significados
Estamos diante de um mistério; diante
de um fato que excede nossa inteligência humana. Sim, o mistério não contradiz
a razão humana, mas a excede.
O privilégio da Imaculada Conceição
não se refere ao fato de Maria de Nazaré ter sido virgem antes, durante e
depois do parto de Jesus. Não se refere ao fato de ter ela concebido o Filho
sem concurso de homem, mas por Obra e Graça do Espírito Santo. Não se refere ao
fato de Maria não ter cometido nenhum dos pecados que para nós são, –
lamentavelmente, corriqueiros. – Refere-se, isto, sim, ao fato de Deus havê-la
preservado da mancha com a qual todas as criaturas humanas nascem, a mancha
herdada do Pecado cometido por Adão e Eva, que a Teologia chama Pecado
original.
Nossos primeiros pais, apesar de
feitos à imagem e semelhança de Deus, eram criaturas e como criaturas dependiam
do Criador. Sua liberdade era a plenitude da liberdade como criaturas. Adão e
Eva pecaram, querendo passar da liberdade e santidade de criaturas à liberdade
e santidade próprias do Criador, ou seja, quiseram igualar-se a Deus. Pecado de
orgulho. Pecado de desobediência. Quiseram “ser como Deus” (Gn 3,5) e não como
criaturas de Deus.
Consequências dramáticas dessa
suprema prepotência de nossos primeiros pais: embora mantivessem a dignidade de
Imagem e Semelhança de Deus, perderam, como diz São Paulo “a Graça da santidade
original” (Rm 3,23); passaram a ter medo de Deus; perderam o equilíbrio de
criaturas, ou seja, foram tomados pelas más inclinações e passaram a sentir em
suas consciências a desarmonia e a tensão entre o bem e o mal, e a experiência
da terrível necessidade de optar entre um e outro. "Entrou a morte na
história da humanidade” (Rm 5,12).
Ora, os planos
de Deus, ainda que as criaturas os reneguem ou se desviem deles, acabam se
realizando. Aquela mulher
imaginada/criada por Deus antes do Paraíso terrestre, para ser a Mãe do Filho
em carne humana, estava isenta do pecado de Adão e Eva. Todavia há uma verdade
de fé professada desde sempre pela Igreja que ensina com clareza que todas
as criaturas humanas são redimidas, sem exceção, exclusivamente pelos méritos
de Jesus Cristo. Ora, sabemos bem que Maria é uma criatura de Deus e não
uma espécie "deusa" (somente na imaginação desvairada de certos
inimigos da igreja esta absurda confusão seria possível). Por isso, também ela
deveria ser, – como de fato foi, – redimida por Jesus Cristo, a um só tempo seu
Filho e Senhor.
Teólogos discutiram durante séculos
sobre como Maria poderia ter sido remida. Nunca, nenhum santo Padre duvidou da
santidade de Maria, de sua vida puríssima, de seu coração inteiramente voltado
para Deus, ou seja, de ser uma mulher “Cheia de Graça” (Lc 1,28). A razão de
tanta convicção e de tanta certeza sempre foi a certeza e a convicção de que
Deus Todo Poderoso, o Santo dos Santos, só poderia nascer de um vaso que fosse
puríssimo.
Aos 8 de dezembro de 1854, o
bem-aventurado papa Pio IX declarou verdade de fé a Conceição Imaculada de
Maria:
“Pela Inspiração do Espírito Santo Paráclito, para honra da santa e
indivisa Trindade, para glória e adorno da Virgem Mãe de Deus, para exaltação
da fé católica e para a propagação da religião católica, com a autoridade de
Jesus Cristo, Senhor nosso, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e
nossa, declaramos, promulgamos e definimos que a Bem-aventurada Virgem Maria,
no primeiro instante de sua conceição, foi preservada de toda mancha de pecado
original, por singular graça e privilégio do Deus Onipotente, em vista dos
méritos de Jesus Cristo, Salvador dos homens, e que esta doutrina está contida
na Revelação Divina, devendo, portanto, ser crida firme e para sempre por todos
os fiéis.”
(Ineffabilis Dei, 42)
(Ineffabilis Dei, 42)
Há 161 anos foi proclamado o dogma,
mas a devoção à Imaculada é muito mais antiga. Basta lembrar que a festa é
conhecida pelo menos desde o século VIII. Desde 1263, a Ordem Franciscana
celebrou com solenidade a Imaculada Conceição, no dia 8 de dezembro de cada
ano, e costumava cantar a Missa em sua honra aos sábados. Em 1476, o Papa Xisto
IV adicionou a Festa ao Calendário Litúrgico da Igreja. Em 1484, Santa Beatriz
da Silva, filha de pais portugueses, fundou uma Ordem contemplativa de mulheres,
conhecidas como Irmãs Concepcionistas, para venerar especialmente e difundir o
privilégio mariano da Imaculada Conceição de Maria, Mãe de Deus.
Desde a proclamação do dogma, a festa
da Imaculada Conceição passou a ser dia santo, de guarda ou preceito.
Em Roma, na Praça Espanha, para
perenizar publicamente a declaração do dogma, levantou-se uma belíssima coluna
entalhada, encimada por uma formosa estátua da Imaculada Conceição. Todos os
anos, no dia 8 de dezembro à tarde, o Papa costuma ir à Praça, e com o povo
romano e peregrinos reverenciar o privilégio da Imaculada Conceição da
santíssima Virgem, privilégio este que deriva do maior de todos os seus
títulos: Mãe do Filho de Deus, nosso Senhor e Salvador.
A coroação final e
maravilhosa desta riquíssima história veio menos quatro anos após a proclamação
do dogma, quando, em Lourdes, França, à menina Bernardete. Simples e
analfabeta, ao ser agraciada com a visão da santíssima Virgem, perguntava
insistentemente à visão quem era, até receber como resposta, cercada de
terníssimo sorriso: “Eu sou a Imaculada Conceição”('que soy era
immaculada concepciou').
Não podemos
esquecer que a imagem ou representação da padroeira de nossa nação,
chamada comumente Nossa Senhora Aparecida, é também uma Imaculada Conceição;
por isso mesmo, seu título oficial é "Nossa Senhora da Conceição
Aparecida".
Como é bonito,
piedoso e comovente escutar o povo brasileiro cantando uníssono: "Viva
a Mãe de Deus e nossa / sem pecado concebida! / salve, Virgem Imaculada, / ó
Senhora Aparecida!"
Fonte: http://www.ofielcatolico.com.br/2005/12/a-festa-da-imaculada-conceicao-de-maria.html
(acessado em 09/12/2015).
As imagens foram retiradas da internet e exceto a de Nossa Senhora da Conceição Aparecida, as demais são atribuidas à Bartolomé Murillo: La Inmaculada Concepción de El Escorial, (1660-1665), Museo del Prado, Madrid
Nenhum comentário:
Postar um comentário